UC Educação e Sociedade em Rede


Recensão crítica dos vídeos de Michael Wesch



Ano letivo: 2021/2022

23 de janeiro 2022


EQUIPA SIGMA


Mestrandos:     

              Ana Paula Valente - 2102159@estudante.uab.pt
              Jefferson Matos - 2102162@estudante.uab.pt
             Maria João Alves - 2102166@estudante.uab.pt
             Samuel António - 1004459@estudante.uab.pt                                                            Sónia Lamas - 2102171@estudante.uab.pt



Introdução:

 

Este trabalho foi realizado no âmbito da unidade curricular Educação e Sociedade em Rede, subtópico “A rede como interface educativo”.

A tarefa consistia em elaborar, em grupo, uma recensão crítica dos vídeos de Mike Wesch, face à acelerada transformação digital e suas implicações nas instituições e os processos educativos, não apenas na prática educativa, mas também o modo como pensamos a função social da educação.

Os vídeos propostos eram os seguintes:


1 - An anthropological introduction to YouTube, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=TPAO-lZ4_hU


2 - The Machine is (Changing) Us: YouTube and the Politics of Authenticity, disponível em:  https://www.youtube.com/watch?v=09gR6VPVrpw


3 - Students Helping Students, disponível em: https://youtu.be/_npqbMKzHl8


4 - A Vision of Students Today, disponível em: https://youtu.be/dGCJ46vyR9o


5 - The Machine is Us/ing Us (Final Version), disponível em: https://youtu.be/NLlGopyXT_g


Recensão crítica dos vídeos

1 – An anthropological introduction to YouTube

Este extraordinário vídeo, de Michael Wesch, constitui uma excelente reflexão sobre o fenómeno da internet e, em particular, dos conteúdos de vídeo no YouTube. O antropólogo dá vários exemplos do fenómeno de recordes de visualizações e de alguns conteúdos relacionados com esta temática e partilha o seu olhar de antropólogo sob várias perspetivas, trazendo contributos importantes para a nossa formação.

Nesse sentido, começa por nos remeter para os primeiros vídeos que foram criados, salientando o jovem pioneiro de Nova Jérsia que se filma, no seu quarto, a vibrar com música, exultando alegria e que, rapidamente, se transformou numa estrela cibernautica. Wesch traz vários exemplos, de fenómenos desta natureza, inclusivamente, de uma experiência imersiva que ele próprio promoveu neste domínio.

Uma primeira visualização de um vídeo é apenas isso, é conhecimento já as seguintes são confirmações, são "re-conhecimento", o valor do Replay assume a grande relevância.

O autor leva-nos a refletir, explicando que um grupo a dançar frente a uma câmara, não é apenas um grupo a dançar em frente a uma caixa, mas sim, um grupo a dançar para milhões de caixas espalhadas pelo mundo. O que nos faz pensar, que o que fazemos, num determinado contexto, em que dominamos a nossa ação no momento, pode ser propagado por várias pessoas em vários locais do mundo e, a partir desse ponto, não controlamos quem vê, quem reproduz e podemos ter, ou não, um feedback daquilo que publicámos. Sendo que podemos ter um feedback agora, ou depois, ou talvez um dia, e vindo de qualquer lugar do mundo ou do vizinho do lado, ou de um familiar próximo.  Existe, pois, uma imprevisibilidade esmagadora, face ao que sucederá a seguir, até mesmo, em relação ao sucesso ou ao fracasso, ou até a possíveis alterações que os nossos conteúdos possam vir a sofrer.

Michael considera que os media são mediadores sociais, o autor fala também, da questão da “comunidade”, existindo uma comunidade YouTube e utiliza a expressão de se passar da mercearia de bairro para o hipermercado. A este respeito, faz também referência a Barry Wellman, o qual defende que para socializar as pessoas já não necessitam de se “mover de sítio para sítio”, pois a conectividade permite que a socialização possa ser feita “pessoa a pessoa”, permite o que o autor designa de “individualismo em rede”.

 Verifica-se assim, uma inversão cultural, tomamo-nos cada vez mais individualistas, mas muitos de nós, ainda, têm um forte desejo de comunidade. Assim, quanto mais individualistas nos tornamos, mais desejamos esta comunidade. Podemos, então, falar das nossas contradições e das ambivalências que sentimos. Segundo o autor, tornamo-nos cada vez mais independentes, enquanto desejamos fortes relacionamentos, ou seja, assistimos a paradoxos, por um lado, desejamos privacidade e algum isolamento, mas por outro, desejamos partilhar as nossas vidas com o mundo.

Um outro exemplo dado, é o de um indivíduo que, não tendo ninguém para o cumprimentar, recebe através do YouTube abraços grátis.

O autor refere, ainda, um outro documentário em que uma estudante mostra, através do espelho, a câmara para a qual está a falar e afirma que não está a falar para eles, mas sim para a câmara. Portanto, está connosco, mas não sabe quem somos. Ou seja, cada vez que falamos para uma webcam estamos a falar para algum local desconhecido e não sabemos quem está a falar connosco, estamos assim, perante um fenómeno de audiência invisível, e de modo assíncrono, pelo que não sabemos quando seremos vistos. Esta ideia é muito interessante, pois, representa uma nova forma de comunicar que nos deixa cheios de expectativas e de certa forma em standby, numa suspensão do tempo e do espaço.

O autor refere que cada vez que falamos, estamos a dimensionar o contexto e, neste caso, não sabemos, qual é o contexto. Podemos ser lançados em vários contextos, inclusivamente, o nosso vídeo pode ser misturado por alguém. Isto é, o que ele chama de colapso do contexto. A profunda experiência de colapso do contexto, remete-nos para que no momento em que olhamos para a webcam, pela primeira vez, e começamos a tentar falar, temos a sensação que não sabemos com quem estamos a falar.

Outro aspeto focado no vídeo são as questões da legalidade, pois grande parte do que aparece no YouTube é ilegal, como os remakes e os remixes. Assim, os nossos filhos ou os nossos alunos são “piratas”, sem que haja muito que se possa fazer, neste mundo visto pelo mundo. Neste sentido, destacam-se as palavras poéticas de Carl Sagan sobre o ponto azul (Terra) visto no espaço, Michael fez um poema ao olhar para o ponto (câmara) que está ali, que é outra pessoa, que é toda a gente. Do outro lado, daquele pequeno ponto de vidro está toda a gente que amas, toda a gente que conheces, toda a gente de que ouviste falar, toda a gente que está a viver as suas vidas que têm acesso à internet, milhões de potenciais visualizadores e “tu no meio deles”.

Na internet, estamos num espaço público, no vídeo, é referido, que é o espaço mais público no mundo da privacidade de nossas casas. Tem sido utilizado para muitas coisas: novela política, palco de comédia, um púlpito religioso, um pódio de um professor, ou apenas uma forma de chegar ao vizinho que vive ao nosso lado ou do outro lado do mundo, às pessoas que amamos, às que queremos amar ou às pessoas que nem conhecemos. Partilhar algo profundo ou trivial, algo sério ou cómico. Lutar pela fama ou simplesmente ligar-se. Pode ser muitas coisas, mas não pode ser apenas uma coisa e não pode ser apenas o que queres que seja. Não é apenas o que fazes dela, mas sim o que fazemos dela. É um pequeno ponto de vidro, os olhos do mundo.

Esta última reflexão faz-nos pensar, que desejamos ser o que não somos, mas que também somos o que somos e estamos à frente, de quem quer que seja, de quem amamos ou odiamos, estamos no local mais nosso e mais privado do mundo e dali estamos em todo o mundo.

Por fim, o vídeo faz referência às dimensões de reparação emocional ou da função social que a internet e o YouTube podem assumir, nomeadamente, na possibilidade de viver num falso self e em personagem, em que podemos ser quem quisermos e mostrar que sentimos, o que não sentimos e, assim, nos confortarmos nas nossas angústias e inquietações. Sendo ilustrado com o exemplo de alguém que perde um filho e preenche esse vazio incomensurável, recorrendo a personagens e passamos a citar palavras suas “Vocês aceitaram as minhas personagens, abraçaram-nas até, e ao fazê-lo vocês abriram os vossos braços para mim. Permitiram-me continuar a ter a fuga que ainda necessito nos momentos difíceis”.

Com base nestes pressupostos, concluímos que a  internet cumpre, assim, uma função social, para além, naturalmente, da função associada à acessibilidade à  informação, segundo, Cardoso (1998), a visão da internet , não pode estar limitada à chamada tecnologia de informação, e neste sentido, refere que se deve contrapor o princípio da internet, enquanto tecnologia de informação, com o da internet, enquanto, tecnologia social, pois os utilizadores da internet e do ciberespaço não procuram apenas informação, procuram também, pertença, apoio e afirmação, numa tecnologia, assim eminentemente social.

Para complementar esta reflexão, importa referir no contexto educativo o conectivismo e refletir sobre o indivíduo e a comunidade dentro deste novo contexto comunitário. O conectivismo é uma teoria sugerida por George Siemens e Steven Downes, a qual concebe que o conhecimento está disseminado numa rede de conexões e a aprendizagem consiste na capacidade de construir, permanecer e circular nas redes, desenvolvendo a capacidade de refletir, decidir e partilhar informações. Bates (2017, p.92) defende que:  

“No conectivismo, são as ligações coletivas entre todos os “nós” em uma rede que resultam em novas formas de conhecimento. De acordo com Siemens (2004), o conhecimento é criado além do nível individual dos participantes humanos e está constantemente mudando e se transformando. O conhecimento em rede não é controlado ou criado por qualquer organização formal, embora as organizações possam e devam “ligar” este mundo de informações em fluxo constante e desenhar um significado a partir dele. O conhecimento no conectivismo é um fenômeno caótico em mutação, à medida que nós que vêm e vão e que a informação flui através de redes que estão inter-relacionadas com uma miríade de outras redes”.

2 – The Machine is (Changing) Us: YouTube and the Politics of Authenticity

Este vídeo faz parte da conferência intitulada “An Anthropological Introduction to YouTube” que ocorreu no Fórum de Democracia Pessoal em 2009, no Jazz at Lincoln Center e tem como título “A máquina está a mudar-nos/A máquina somos nós: o YouTube e a política de autenticidade”. O autor Michael Wesch, professor de Antropologia na Kansas State University, sendo conhecido pelo seu trabalho académico no âmbito dos novos meios de comunicação e tecnologia digital, numa perspetiva sociológica e etnográfica.

O vídeo tem como protagonista este professor que, num diálogo com os assistentes da conferencia, disseca as mudanças na sociedade e na cultura que decorrentes do aparecimento do YouTube. O autor tenta dar uma ideia da forma como os utilizadores desta rede social elaboram os conteúdos, os mostram e como são distribuídos pela rede, com todos os filtros que neste fluxo vão surgindo, condicionando desse modo a maneira como criamos, encontramos e compartilhamos os conteúdos, tornando-nos muitas vezes vítimas das redes sociais. Tudo isso pode levar a uma solidão social e a perda de significados, valores e instrumento da própria tecnologia.

O autor dá relevo, logo no início da sua conferência, ao livro 1984 e ao filme do realizador Neil Postman “Amusing Ourselves to Death”, partindo daí para defender como as novas tecnologias nos estão a afetar, como estamos a mudar a cultura e como somos viciados e distraídos pelo entretenimento.

Depois apresenta-nos os novos media como novas plataformas de comunicação e informação e não como ferramentas para comunicar. Daí parte para uma análise da ecologia dos media ao longo dos tempos, passando por vários meios e evolução cultural, nomeadamente os anos 60 que ele refere a época do “não me importo”, para a de 90 com o “tanto faz e não me importo com o que faz”.

Nesta viagem pelos tempos dos media e sobretudo dos novos, defende que os media proporcionam novas formas de nos conhecermos e de nos relacionarmos na procura do eu autêntico, sendo que, muitas vezes, não temos coragem nos relacionamentos pessoais, mas com grande dose de narcisismo.  Daqui decorrem as questões de autenticidade: Que personalidades verdadeiras temos nas redes sociais. Fala, ainda, de forma sintética, sobre a irrelevância dos conteúdos que temos no YouTube e da facilidade com que algumas pessoas usam as plataformas para campanhas de ódio sobre a proteção do anonimato que estas permitem. Neste vídeo fica bem patente o papel dos media de hoje na mediação, filtragem e mesmo censura da informação.

Assim o autor, com a sua crítica à atual cultura, fortemente individualista, independente e fruto do marketing, defende, em alternativa, a necessidade das relações com a comunidade e o reforço da autenticidade, sendo que a família tem um papel importante no controlo e fiscalização do acesso aos medias e da educação para os valores das crianças e jovens. Ou seja, preconiza que não nos deixemos controlar pela máquina(s).

O professor Michael Wesch termina, antevendo e, sobretudo, deixando um apelo para que todos usem o YouTube da melhor forma, recorrendo às suas potencialidades e sem nos deixarmos iludir pela novidade e supremacia das tecnologias: “Eu importo- me. Vamos fazer o que for preciso por todos os meios necessários”; “I care. Let´s do whatever it takes … by whatever means necessary!”.

3 – Students Helping Students

O título do vídeo “Students Helping Students”, de Michael Wesch, que pode ser traduzido para português como “Estudantes ajudando estudantes”. Este vídeo foi criado em 2010 pelos seus alunos da disciplina “Digital Ethnography” para compartilhar o trabalho da organização sem fins lucrativos “K-State Proud”, a qual tem o objetivo de ajuda os alunos da Kansas State University a ajudar financeiramente outros alunos para se formarem. De 2006 até a publicação do vídeo, eles arrecadaram 250 mil dólares em doações, para os seus colegas. Principalmente para aqueles que mais precisam, devido à perda de suas casas, dos seus pertences numa inundação, ou por causa de uma doença grave, como foi apresentado na descrição do vídeo no YouTube.

De forma descontraída, o vídeo demonstra como as pessoas ao estabelecerem uma rede, com um mesmo interesse, podem proporcionar mudanças nas vidas de outras pessoas. Wesch neste vídeo foca um conjunto de valores promovidos por aquela comunidade académica, em que cada aluno não vive isolado, pertence a uma comunidade que tem como pilares base a cooperação e entreajuda. Atos de solidariedade ficam maiores quando são feitos em conjunto, mesmo sem as pessoas se conhecerem. Assim se confirma que a função social da educação é, com efeito, reproduzir uma sociedade em rede que estabeleça comunidades de aprendizagem e autoformação que realizem trabalhos como esse da K-State Proud, que propiciam uma sociedade melhor. O site K-State Proud (twentyfor.org) informa que a instituição já arrecadou até 2021, 1.4 milhões de dólares em doações e já ajudaram 900 alunos em 15 anos de existência. Concluímos que este vídeo, assente nos valores daquela comunidade académia, revela igualmente como a rede pode ter um papel preponderante na implementação desses valores.

Transpondo estes valores de cooperação, partilha e entreajuda para o contexto educativo, este vídeo aponta para as possibilidades que as tecnologias oferecem no acesso à educação, nas mudanças que permitem tornar os alunos, para além de utilizadores, construtores de informação e de redes de partilha de conhecimento, tendo um papel mais ativo na construção do seu próprio conhecimento.

4 – A Vision of Students Today

Este vídeo realizado em 2008 vai ao encontro das orientações desta tarefa “transformação digital das instituições e dos processos educativos”. No entanto, a ideia principal veiculada pelo mesmo aponta para a ideia de que “esta nova realidade da sociedade em rede não está a transformar a educação”, nem está a “recuperar a antiga dimensão comunitária da aprendizagem, integrando-a de modo dinâmico com a noção tipicamente moderna de auto-formação”.

O vídeo foi realizado pelo professor Mike Wesch, no ano de 2008, em colaboração com os seus alunos, no âmbito da disciplina de etnografia digital da Universidade do Estado do Kansas, EUA.  Claramente o objetivo deste vídeo é mostrar que o contexto educativo não pode escudar-se na necessidade de adaptação às constantes evoluções da tecnologia, mas antes agir no sentido da alteração dos paradigmas e das práticas educacionais, tal como afirma Grajek (2021, p.51) “IT leaders are ensuring that their technical staff receive the training and opportunities needed to be able to work within the new technical environments”.

Ao longo do vídeo é salientada a discrepância, ao nível do recurso a tecnologias, existente entre o dia a dia daqueles alunos (e de muitos outros) e o contexto aula. Esta discrepância entre a realidade de uma sala de aula atual e a evolução tecnologia ali inexistente está bem patente na frase de abertura do vídeo, que é uma citação de 1967 de Marshall McLuhan, a qual refere que as salas de aula atuais são as salas típicas do século XIX, acrescentando que o sistema educacional continua a pautar-se pela escassez de informação, por um sistema organizado, estruturado e fragmentado em função de “disciplinas padrão” e horários.  Termina, igualmente, com a visão de uma sala de aula do século XIX, na qual faltam fotos, vídeos, animações e trabalho em rede.

“A Vision of Students Today” teve como ponto de partida a realização de um questionário online, no qual os alunos teriam que manifestar as suas opiniões, experiências e expetativas quanto ao sistema de ensino superior. A durante o vídeo são apresentadas frases decorrentes do tratamento de dados deste questionário, nas quais estão patentes várias críticas:  ao número de alunos por aula, ao distanciamento relacional professor-aluno, aos métodos e estratégias de ensino, aos objetivos inadequados das disciplinas, à falta de motivação, de concentração durante as aulas e de compromisso com a função de estudantes e, por fim, ao facto de não estarem a ser preparados para o futuro, pois muitas das profissões atuais desaparecerão ou transformar-se-ão.

O vídeo apresenta muitas críticas, mas também muitos aspetos reais e que exigem a reflexão de todos. Mas será que a tecnologia resolveria todos os problemas apresentados? Será que os quatro aspetos mencionados no final do vídeo – fotos, vídeos, animações e trabalho em rede – por si só resolveriam estes problemas. A resposta será, certamente, que não. Porém, há uma enorme discrepância entre a presença do mundo tecnológico e digital na nossa vida dentro e fora da escola. Mas bastaria apenas apetrechar as escolas com meios tecnológicos? Obviamente que não. Os sistemas educativos têm mostrar no dia-a-dia dos alunos na escola evidências de mudança e de evolução. Quanto mais diversificadas e significativas forem as experiências dos alunos numa escola, seja uma escola básica ou uma universidade, melhor preparados estarão estes alunos para a integração na sociedade e no mundo do trabalho, independentemente das funções que vierem a desempenhar. No entanto, não se adquirem competências apenas através do recurso à tecnologia, a interação é um dos fatores-chave de qualquer sistema de educação, de acordo com Niza (2018, p. 8) é necessário “(…) envolver os alunos em responsabilidades compartilhadas com os professores em autênticas atividades de criação e de apropriação conjunta de conhecimentos.” Têm que existir cada vez mais comunidades de prática, nos contextos escolares, entre professores, alunos e professores-alunos com um compromisso mútuo que leve à aquisição de novas capacidades, competências e conhecimento. Grajek (2021, p.51) salienta: “For example, faculty are spending more time advising students and contributing information about their work with students to student success efforts. All staff supporting students are learning how to respond to early alerts and warnings”.

O desafio dos sistemas educativos coloca-se em criar condições de equilíbrio entre a constante evolução tecnológica e das sociedades e o conhecimento, a compreensão, a criatividade e o sentido crítico. Há inclusive a nível mundial experiências educativas de sucesso, como por exemplo o Deep Springs College, Califórnia USA, que valorizam competências comunicativas, cognitivas, metacognitivas, sociais, emocionais, psicomotoras, físicas e práticas, reduzindo o recurso e a dependência dos estudantes das tecnologias.

Bates (2017, p. 54-6) refere as competências necessárias na sociedade do conhecimento, sendo as seguintes: habilidades de comunicação; capacidade de aprender de forma independente; ética e responsabilidade; trabalho em equipe e flexibilidade; habilidades de pensamento; competências digitais; gestão do conhecimento.

Em conclusão, pode afirmar-se que as questões apontadas no vídeo certamente manter-se-ão em algumas instituições, no entanto, de um modo geral, o ensino superior tem vindo a evidenciar sinais de adaptação às novas tecnologias e de melhoria nas práticas pedagógicas. Além disso, não obstante o recurso às tecnologias, não podemos ignorar que o papel dos professores continua e continuará a ser fulcral no desenvolvimento de competências.  

5 – The Machine is Us/ing Us (Final Version)

Neste vídeo datado de 2007, Michael Wesch caracteriza a web 2.0, começando por fazer uma comparação entre o hipertexto e suas enormes vantagens perante o anterior contexto de simples texto escrito. Na realidade com o advento da web 2.0, ou web social com grande partilha de dados entre utilizadores e a rede, houve uma natural evolução para o hipertexto e hipermédia, sendo a [i]Wikipédia que surgiu em janeiro de 2001 e o [ii]Facebook em fevereiro de 2004 exemplos paradigmáticos neste âmbito.

Quando Tim – Berners Lee em 1991 criou a WEB, assistimos ao advento da democratização do acesso a muito mais informação. Com o surgimento do Hipertexto os conteúdos ficaram tendencialmente infinitos, na Web 2.0 assistimos à democratização do pensamento, a primavera árabe mostrou ao mundo a dimensão do cidadão repórter que com um simples telemóvel com ligação à rede pode até derrubar regimes totalitaristas.

É inegável, que na web 2.0, esta máquina… começou a usar-nos, na medida em que foram e são os utilizadores que continuam a alimentar a sua voracidade. De facto, os dados fornecidos cresceram infinitamente, por outro lado usamos-no-la para aceder ao manancial infinito de informação que ela abarca. Assim será legitimo assumir que nesta relação homem máquina existiu inicialmente uma “simbiose funcional”, que nos levou à web 3.0 ou web semântica e nos conduzirá ou conduziu, previsivelmente à web 4.0 fortemente assente na inteligência artificial e alicerçada numa enorme acumulação de dados e que evoluirá possivelmente até ao “algoritmo mestre” com a expectável continuação de utilização de software de reconhecimento de padrões de dados e de aprendizagem automática.

Neste vídeo são apontadas as potencialidades da web/machine, mas também as suas influências na virtualização do real. O hipertexto (texto digital) tem um alcance muito mais vasto do que a escrita em papel, dada a rede de interligações que a web proporciona, sem limitações espaciais e temporais, com grande velocidade e facilidade de acesso, o que traz claramente bons e maus efeitos. Se, por um lado, passámos de criadores de documentos fechados para uma total abertura da informação, sendo como produtores de conteúdos os utilizadores da rede/machine. Por outro lado, a rede/machine usa esses mesmos produtores de conteúdos e utilizadores da rede para disseminar tudo o que produzem. O vídeo aponta para o facto do conteúdo disponível na web poder ser usado de todas as formas, incluindo as mais inesperadas e indesejadas, numa perspetiva um pouco pessimista que quase aponta para um mundo onde assumimos que cada clique permite o fornecimento a uma empresa comercial de resmas incalculáveis de dados sobre nós. Com efeito, o medo das máquinas e da evolução da tecnologia não é novidade. No caso da Internet, a sua falta de fronteiras geográficas deu origem a novos tipos de medo: predadores online, questões de privacidade, cyberporn, cultos suicidas, entre outros. O próprio título ‘The Machine is Us/ing Us’ carrega em si uma visão negativa. 

No final do vídeo, o autor concluiu que não temos que assumir uma atitude de receio sobre o futuro da tecnologia, mas sim estarmos conscientes das suas (des)vantagens e repensar alguns aspetos importante, tais como: direitos de autor, identidade, ética, estética, retórica, governação, privacidade, comércio, amor, família e nós próprios. Este vídeo em particular, fez-nos recordar os pensamentos de Baudrillard e de Virilio, no que respeita ao papel do ser humano no mundo tecnológico, aos riscos do excesso de informação e a forma como a web modificou as nossas experiências de vida.

Conclusão:

Nos vídeos analisados, Wesch apresenta diferentes aspetos dos avanços tecnológicos, pretendendo levantar questões importantes, nomeadamente o facto de que, em vez de resistirmos à evolução da tecnologia, devemos discuti-la, usá-la e testá-la e aprender com ela.  Os vídeos apresentam aspetos comuns e que se podem transferir para o contexto educativo, nomeadamente o apelo à necessidade de alteração dos paradigmas e práticas educativas para que estejam em consonância com a sociedade em rede em que instituições educativas e alunos estão inseridos.  As críticas aos modelos de ensino “do passado” que perduram na escola da era tecnológica, demonstram a necessidade de repensar a educação em função dos elementos integradores e facilitadores potenciados pela tecnologia. Não obstante, a constatação de que as mudanças da sociedade não são acompanhadas pela escola, Wesch salienta a necessidade de criar redes que permitam oferecer oportunidades idênticas a todos os alunos, pois a tecnologia deve permitir um melhor e mais fácil acesso à aprendizagem e ao conhecimento e não ser um obstáculo, em função das diferentes realidades sociais. 

Demonstrando que os alunos são elementos ativos na sociedade que que adotam valores de colaboração, partilha e entreajuda, Wesch aponta-nos para as mudanças no papel dos alunos e professores no seio escolar através da descentralização do papel do professor como detentor do conhecimento e do aumento da cooperação e construção partilhada entre alunos e professores do conhecimento. Esta forma de trabalho não tem apenas impacto no papel desempenhado pelos alunos na sua formação, mas também no sentimento de pertença a uma comunidade de aprendizagem.

 O autor aborda a evolução da tecnologia com um olhar antropológico, focando simultaneamente os perigos e as vantagens como a tecnologia está a mudar a forma como as pessoas vivem, agem e socializam. No entanto, tal como salienta Bates (2017, p. 60) as “mudanças devem vir de dentro da organização e, em particular, dos próprios professores. (…) Se o governo ou a sociedade como um todo tenta impor mudanças de fora, (…) existe um grave risco de que a mesma coisa que faz da universidade um componente único e valioso da sociedade poderá destruí-la, tornando-a, assim, menos valiosa para a sociedade como um todo.”.

[i] https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_Wikip%C3%A9dia

[ii] https://pt.wikipedia.org/wiki/Facebook

Biblio e Webgrafia:

Domingos, P. (2017). A Revolução do Algoritmo MestreEditora Manuscrito.

https://www.k-state.edu/sasw/faculty/wesch.html

Bates, A. W. (Tony). (2017). Educar na era digital: design, ensino e aprendizagem (versão digital). Tradução de Teaching in a Digital Age: guidelines for designing teaching and learning. Disponível em: http://www.abed.org.br/arquivos/Educar_na_Era_Digital.pdf

Cardoso, G. (1998). Para uma sociologia do ciberespaço: comunidades virtuais do ciberespaço.  Ed. Celta. Oeiras

Grajek, S. (2021). How Colleges and Universities are driving to Digital Transformation today. Disponível em: https://er.educause.edu/-/media/files/articles/2020/1/er20sr214.pdf

Niza, S. (2018). Aprender a participar na construção da vida democrática. Escola Moderna, N.º 6, 6.ª série, 2018, p. 7-9.


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The Machine is Us/ing Us (Final Version) 



Janeiro de 2022

Neste vídeo datado de 2007, Michael Wesch caracteriza a web 2.0, começando por fazer uma comparação entre o hipertexto e suas enormes vantagens perante o anterior contexto de simples texto escrito. Na realidade com o advento da web 2.0, ou web social com grande partilha de dados entre utilizadores e a rede, houve uma natural evolução para o hipertexto e hipermédia, sendo a [i]Wikipédia que surgiu em janeiro de 2001 e o [ii]Facebook em fevereiro de 2004 exemplos paradigmáticos neste âmbito.
Quando Tim – Berners Lee em 1991 criou a WEB, assistimos ao advento da democratização do acesso a muito mais informação. Com o surgimento do Hipertexto os conteúdos ficaram tendencialmente infinitos, na Web 2.0 assistimos à democratização do pensamento, a primavera árabe mostrou ao mundo a dimensão do cidadão repórter que com um simples telemóvel com ligação à rede pode até derrubar regimes totalitaristas.
É inegável, que na web 2.0, esta máquina… começou a usar-nos, na medida em que foram e são os utilizadores que continuam a alimentar a sua voracidade. De facto, os dados fornecidos cresceram infinitamente, por outro lado usamos-no-la para aceder ao manancial infinito de informação que ela abarca. Assim será legitimo assumir que nesta relação homem máquina existiu inicialmente uma “simbiose funcional”, que nos levou à web 3.0 ou web semântica e nos conduzirá ou conduziu, previsivelmente à web 4.0 fortemente assente na inteligência artificial e alicerçada numa enorme acumulação de dados e que evoluirá possivelmente até ao “algoritmo mestre” com a expectável continuação de utilização de software de reconhecimento de padrões de dados e de aprendizagem automática.
Neste vídeo são apontadas as potencialidades da web/machine, mas também as suas influências na virtualização do real. O hipertexto (texto digital) tem um alcance muito mais vasto do que a escrita em papel, dada a rede de interligações que a web proporciona, sem limitações espaciais e temporais, com grande velocidade e facilidade de acesso, o que traz claramente bons e maus efeitos. Se, por um lado, passámos de criadores de documentos fechados para uma total abertura da informação, sendo como produtores de conteúdos os utilizadores da rede/machine. Por outro lado, a rede/machine usa esses mesmos produtores de conteúdos e utilizadores da rede para disseminar tudo o que produzem. O vídeo aponta para o facto do conteúdo disponível na web poder ser usado de todas as formas, incluindo as mais inesperadas e indesejadas, numa perspetiva um pouco pessimista que quase aponta para um mundo onde assumimos que cada clique permite o fornecimento a uma empresa comercial de resmas incalculáveis de dados sobre nós. Com efeito, o medo das máquinas e da evolução da tecnologia não é novidade. No caso da Internet, a sua falta de fronteiras geográficas deu origem a novos tipos de medo: predadores online, questões de privacidade, cyberporn, cultos suicidas, entre outros. O próprio título 'The Machine is Us/ing Us' carrega em si uma visão negativa. 
No final do vídeo, o autor concluiu que não temos que assumir uma atitude de receio sobre o futuro da tecnologia, mas sim estarmos conscientes das suas (des)vantagens e repensar alguns aspetos importante, tais como: direitos de autor, identidade, ética, estética, retórica, governação, privacidade, comércio, amor, família e nós próprios. Este vídeo em particular, fez-nos recordar os pensamentos de Baudrillard e de Virilio, no que respeita ao papel do ser humano no mundo tecnológico, aos riscos do excesso de informação e a forma como a web modificou as nossas experiências de vida. 

[i] https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_Wikip%C3%A9dia

[ii] https://pt.wikipedia.org/wiki/Facebook


Bibliografia

Domingos, P. (2017). A Revolução do Algoritmo Mestre. Editora Manuscrito.


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A virtualização das relações sociais

O que torna o contexto diferente não será, em grande medida, o canal e a sua tecnologia?

O ser humano como entidade dotada de uma inteligência superior, no atual estado da arte claro, sempre foi e, supostamente, será um animal socialmente adaptado ao contexto em que se insere. Quem somos nós de nós próprios, mais ou menos transparentes? Possivelmente, seremos quem sempre fomos, com um comportamento comunicacional adequado às circunstâncias, “mais ou menos”: assertivos[i]; passivos; agressivos ou manipuladores[ii].

Com a WEB 2.0 e consequente evolução das redes sociais em plataforma digital, a realidade é que este novo canal de comunicação com a sua tecnologia permite ao individuo adequar o comportamento, não apenas às circunstâncias, prevalecendo agora a sua idiossincrasia, seja esta mais ou menos recomendável. A tecnologia presente nas atuais redes sociais digitais permite mascarar facilmente a realidade, de acordo com a vontade do emissor. Como poderemos assegurar a autenticidade da informação? Pela sua transparência? Quem a valida ou autentica? De facto, a informação presente nas redes digitais, se não validada por entidades fidedignas, o seu valor deveria ser equiparado, não raras vezes, à categoria de simples “boato”[iii], no entanto pela falta de uma maior capacidade de escrutínio da sociedade e “voracidade informativa”, as “fake news” conseguem pulular muito mais do que deviam e assim moldar uma sociedade aos seus intentos. Como se poderá garantir a qualidade da informação e como se poderá garantir a idoneidade da utilização dessa informação? Atualmente, ainda que manifestamente insuficiente, já existem nas televisões nacionais programas dedicados ao “fact check” nas redes sociais: https://sicnoticias.pt/programas/poligrafo.

A inteligência artificial já está presente nas redes[iiii], mas nos próximos anos com a sua evolução para um patamar superior, talvez um dia se obtenha até o "algoritmo mestre"[iiiii], será espectável, também, uma maior validação da informação nas redes sociais em plataforma digital.

 

[i] https://www.youtube.com/watch?v=rd1mCZVNnxE
[ii] https://pt.slideshare.net/AnaCames/manual-ufcd0350comunicacaointerpessoalcomunicacaoassertiva
[iii] https://dicionario.priberam.org/Boato        

[iiii] https://g1.globo.com/especial-publicitario/inovacao/noticia/2019/07/05/como-a-inteligencia-artificial-    ja-esta-presente-na-sua-vida.ghtml             

[iiii] https://pt.wikipedia.org/wiki/The_Master_Algorithm

 

Bibliografia

 

AZEVEDO, L. (1999). Comunicar com Assertividade. Lisboa: Instituto do Emprego e Formação Profissional/Ministério do Emprego e Formação Profissional.



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Cibercultura 


A cibercultura expressa-se nos ciberespaços, os seus habitantes, na sua grande maioria nativos digitais estão, pois perfeitamente habilitados a este novo modo de ser e estar. “O crescimento do ciberespaço resulta de um movimento internacional de jovens ávidos para experimentar coletivamente, formas de comunicação diferentes daquelas que as mídias clássicas nos propõe”, Lévy (1999:11). 
Tudo terá começado em 1969 com o advento da internet, mas apenas com o surgimento da World Wide Web, 20 anos depois, e seguidamente dos serviços inerentes à web 2.0 que os ciberespaços puderam ter terreno fértil para se desenvolverem. No ciberespaço podemos encontrar os agentes da cibercultura a socializar. “O ciberespaço (que também chamarei de “rede”) é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ele abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo.”, Lévy (1999:17). 

Espaços no âmbito da cibercultura, ou aplicações digitais para a socialização dos intervenientes:




 
Bibliografia: 

Lévi, Pierre. (1999). Cibercultura. Editora 34.

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